quinta-feira, 31 de março de 2016

O dia em que o Cristiano Ronaldo partiu-me o coração.

O Cristiano Ronaldo partiu-me o coração.
É isso mesmo.

No passado domingo, domingo de Páscoa, o melhor do mundo partiu-me o coração, em plena Avenida da Liberdade, em Lisboa.
Passo a explicar.

Desde que me lembro, que não percebo nada de futebol.
Desde que me lembro, que sempre fui sensível aos casos de sucesso, por mérito pessoal.
Essas pessoas inspiram-me!
Adoro ler as biografias, filmes e entrevistas pessoais, e, assim, perceber a determinação e o percurso por que essas pessoas passaram para lá chegar.
Assim, desde sempre também, tive o Cristiano Ronaldo como o mais acabado exemplo disso, a nível nacional.
Dizia, e digo, que os portugueses não devem ser mesquinhos e odiá-lo ou falar mal dele (sobretudo nas redes sociais), porque ele foi mais longe e é bem sucedido.
Isso chama-se inveja (da destrutiva, aliás).
Muitas vezes, a propósito de alguma ação dele ou mera notícia, irrita-me ler e ouvir o ódio que algumas pessoas lhe têm (a ele e toda a gente que se destaque), mesmo com clubismos à parte.

Sobretudo (e este é o ponto!), quando se trata de ações em que ele aparece “bem na fotografia”, como ações de solidariedade, abracinhos a crianças, etc.
Lembro-me especialmente de um vídeo (viral) em que ele abraçava crianças e adultos, que o Messi anteriormente tinha ignorado (já lá iremos!).
Só que, talvez as coisas não sejam assim.
É certo que ele é reconhecido no Mundo inteiro, todos os dias durante o ano. 
Nos dias de trabalho, nas férias, nas saídas, no tempo com a família, nos dias bons e nos maus.

Ninguém deve imaginar a chatice que é ter de falar a toda a gente. Aliás, ele não tem de o fazer!
Mas talvez, muito do que assisti até hoje foi só ‘show off’.
Eu não me lembro de ter pedido algum dia um autografo ou uma foto.
Mas sempre tive para mim, e dizia a toda a gente, que quando me cruzasse com o Ronaldo isso ia mudar LOL
E mudou, infelizmente.
Umas semanas antes do domingo de Páscoa, assisti a um vídeo dele, em que se comparava o número de vezes que conseguia beber chá, ao número de fotos que tirava com fãs, num espaço público algures lá fora.
Sorridente, ele brincava com a situação.
Comigo foi muito diferente.
Por cada vez que diziam que ele era mal educado, procurava sustentar a dificuldade que deve ser viver na pele dele.
Defendi-o acerrimamente muitas vezes. Vezes demais, secalhar.

Na faculdade e no trabalho, gostava de usar o exemplo dele a propósito dos mais variados temas. 
Em direito temos muito a mania de exemplificar com situações e personalidades carismáticas, para demonstrar o ridículo de algumas situações.
Assim, e no maior rasgo de coincidência, estava numa explanada na Avenida da Liberdade, no domingo de Páscoa, a seguir ao almoço de família, e o meu cunhado pergunta-me:
“Joana, quanto custará uma casa nesta rua?”, ao que respondi a brincar “Pergunta ao Ronaldo, quando ele daqui a pouco chegar, é que ele tem casa neste prédio amarelo ao nosso lado, ”. Rimo-nos.
Passou, no máximo, um minuto.
E um jipe com todos os vidros fumados estacionou ao nosso lado, em frente à porta do tal prédio.
Ao reparar nos vidros imediatamente percebi que não podia ser um carro português, dadas as proibições legais (a pessoa é advogada, fazer o que?!). 
E de imediato pensei que seria ele, e brinquei “aí o tens”, ao que me responderam “com este carro? Só se fosse um Raul Meireles”. Ficámos todos a olhar, à espera.
A porta abriu-se, e saiu do banco de trás o Cristiano Ronaldo.
Ficamos boquiabertos com a tamanha coincidência, e decidimos, que quando saísse lhe pediríamos uma foto.
Esperámos, tal como todos os que estavam naquela esplanada (portugueses, outros nem tanto), incluindo empregados.
E ao pedido de todos, ele respondeu com o maior dos desprezos - um silêncio absoluto.

A vida é dele, ninguém lhe pode exigir nada, mas mudou o meu dia, afetou-me durante alguns dias, não conseguia deixar de pensar naquilo, e fez-me repensar muita coisa.
Fiz questão de ver o filme dele nesse mesmo dia.

Como era possível, que a única referência que levava para a vida (num minuto de sorte e coincidência) tivesse agido assim.
Que azar o meu, pensava.
Pior. É claro que não me partiu o coração, o título é uma brincadeira. 
Mas como é possível que tivesse tido tanto efeito em mim?! Logo em mim, que me acho super resolvida e ponderada a avaliar as situações.


Para toda a gente em pé à frente dele, um aceno com a mão teria-nos feito feliz. 

Má educação? Não sei, nem quero saber mais.
Continuo a achar que é um exemplo de mérito, esforço, persistência e beleza.
E sei que é injusto, mas já não consigo admirá-lo. 
Fico apenas com o vídeo do dia em que ele me desprezou (não postei a versão inteira, não é esse o meu propósito), do dia em que deixei de acreditar nas histórias de sucesso.


Aprendi a lição, foi a primeira e a última vez que abordei alguma figura pública na rua.

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